September 17, 2020
Dia4: St Maurice-Ballons d'Alsace-Belfort
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Ter apanhado o comboio no dia anterior tinha tido a vantagem de me ter dado tempo extra. Isso permitiu que usasse todo o tempo que quis para desmontar o acampamento. Precisava de secar a tenda e parte do saco de cama. Esperei que o sol banhasse parte do parque de campismo onde estendi ao sol tudo o que estava molhado. Preparei o pequeno almoço, comi e li mais umas páginas do livro. Deviam ser umas 10h quando comecei a pedalar.
Ainda antes de começar a subida para o Ballon d’Alsace que, a ver pelo mapa e com os seus 1170 m de altitude se adivinhava desafiante, parei numa boulangerie onde comprei pão e croissants.
A subida foi penosa mas recompensadora. A média de inclinação é de 8% e em alguns troços chega aos 12%.
A paisagem é magnifica e o dia não poderia estar melhor. Céu azul, sem nuvens e sem vento. Não sei quantas horas levei a chegar ao colo do Ballon d’Alsace nem quantos ciclistas me ultrapassaram na subida mas, sem desmoralizar, lá cheguei ao cimo e fiz uma pausa para comer um dos croissants comprados lá em baixo.
O ponto mais alto da estrada é bem conhecido de ciclistas e turistas mas poucos são os que se aventuram a subir com uma bicicleta tão carregada como a minha. Todos os outros ciclistas eram verdadeiros desportistas, nas suas bicicletas de 6 kg, em carbono, equipados de calções e T-shirts coloridas a fazer lembrar o Tour de France.
Claro que um cicloturista, com carga à frente e atrás que se move tão lento como um penitente suscita sempre curiosidade. Mais uma vez meteram conversa comigo. De onde vinha, para onde ia e o habitual: Corage!
Comi mais qualquer coisa, enviei mensagens à familia, vesti um casaco, calcei as luvas e lancei-me à descida. Daqui até Belfort seria praticamente sempre a descer.
Em Belfort estava eu na esplanada do parque de campismo quando, passado pouco tempo, vejo chegar outro cicloturista numa bicicleta muito parecida com a minha.
O Dennis viu-me com a bicicleta carregada e veio ter comigo. É sueco e vinha de visitar o irmão que vive na Bélgica. Tinha tido um esgotamento nervoso há uns anos e por isso despediu-se e resolveu fazer uma viagem de bicicleta. Acabou na África do Sul. Agora passados uns tempos resolveu fazer mais uma viagem mas não tinha plano. Haveria de seguir até Espanha onde o pai vive numa comunidade hippie algures no sul.
Iria passar por lá, não mais do que 3 dias porque, segundo dizia, o pai era hippie demais. Depois muito provavelmente seguiria para África a revisitar alguns dos países por onde tinha passado antes. Não tinha planos e todo o tempo do mundo.
Passámos o resto da tarde juntos em amena cavaqueira. Comemos e partilhamos histórias juntos. As dele bem mais interessantes do que as minhas. Também me ajudou a sair do dilema de seguir com o plano previamente traçado ou alterar a viagem. Não que tenha sugerido ou dado algum conselho especial mas apenas porque me ouviu. Falar da indecisão de alterar ou manter o percurso original obrigou-me a racionalizar. Obrigou-me a pesar os pratos da balança de uma forma mais estruturada. Ser obrigado a verbalizar um pensamento ajuda a limpar o ruído cerebral.
Fomos cada um para a sua tenda já a noite ia longa.
Today's ride: 33 km (20 miles)
Total: 273 km (170 miles)
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