September 16, 2019
Dia 3: Verdun-Saint Maurice Sur Moselle
Depois de me refastelar com um café e umas bolachinhas comecei a desfazer a tenda. Estava completamente encharcada pela humidade da noite. Ainda estendi tudo ao sol a ver se secava mas apesar da luz forte o calor não abundava. Uma hora depois resolvi embrulhar tudo mesmo encharcado como estava, arrumar os sacos e fazer-me à estrada.
Fui até à estação de comboio e comprei um bilhete até Epinal. A primeira parte da viagem tinha que ser feita de autocarro pois as linhas estavam em obras. A Annie teve que ir deitada no porão do autocarro.
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O dia estava soalheiro e a temperatura perfeita para pedalar mas isso ficaria para depois de Epinal.
O autocarro deixou-me em Metz onde apanhei o comboio que me levou até Epinal. Cheguei por volta das 16:00 e pesquisei por um sitio onde dormir em Epinal. O camping ficava do outro lado da cidade e fora do meu percurso para o dia seguinte. O largo da estação é particularmente feio e nada convidativo. Não me apeteceu ficar por isso decidi sair de Epinal e ir em direção às montanhas. Seriam uns 55 km até ao início das montanhas. Algum sítio haveria de surgir pelo caminho onde pudesse montar a tenda e, se chegasse relativamente cedo, ainda poderia ser que secasse a tenda antes de dormir. Senão dormiria na rede pendurado entre árvores pensei.
Como eu previa, o percurso fora da cidade tornou-se muito mais interessante com casas mais esparsas, floresta e umas quantas subidas e descidas. Já nos arredores ainda me deparei com um bloqueio na estrada devido a obras onde era proíbido passar e onde tinha um sinal proibindo especificamente a passagem a bicicletas. Ignorei pois dada a hora e a falta de pachorra não estava para mais filmes. Nada se passou.
Cheguei a Remiremont por volta das 19:00. Seria a hora certa para procurar poiso mas em Remiremont começa uma ciclovia construída sobre uma linha de caminho de ferro desactivada. A “Voie Vert des Vosges” Uma verdadeira delícia para cicloturistas com um piso perfeito e praticamente plana. Rolar nesta ciclovia era uma verdadeira tentação. Não resisti e fiz-me ao caminho. A cerca de 30 km há um camping chamado “camping des Ballons” que seria o meu destino.
Pedalava eu já por mais de 45 minutos quando me ocorreu confirmar na net se o camping estaria aberto. No website diziam que fechava a 15 de Setembro. Hoje é dia 16... ooops. Estou a 2 km do camping e são quase 20 h.
Pelo sim pelo não resolvi telefonar. Felizmente alguém atendeu. Expliquei ao que ia e onde estava. O dono disse-me que não estava lá mas que o parque estava aberto e os balneários a funcionar. Só tinha que deixar 5€ na caixa de correio quando saísse.
O camping é fantástico. Como tinha a tenda ainda completamente encharcada montei apenas a parte de dentro, sem duplo tecto, no alpendre de um dos bungallows de madeira do parque. Havia mais um outro hóspede numa caravana. De resto estava tudo vazio.
Tomei um duche e fiz o jantar já a noite ia longa e escura.
É nestes dias em que as coisas não correm como planeado que a solidão cobra a sua quota. As horas de espera pelo comboio somadas às que passei dentro dele sem esforço fisico deram-me demasiado tempo para usar o cérebro. Ocupei a maior parte dessas horas a ler o livro que levei comigo mas não consegui arrumar esta inexplicável inquietação que teimava em andar comigo. Esta viagem tinha sido planeada com cuidado e entusiasmo. As distâncias diárias a serem percorridas foram cuidadosamente analisadas. Tinha comida e equipamento para estar 100% autónomo e em especial tempo de sobra. Seria o facto de ter a família toda em casa, na mesma rotina de sempre mas sem a minha presença que me pesava na consciência? Seria excesso de tempo livre? Ainda antes de adormecer tracei um plano para o dia seguinte. Iria subir ao Ballon d’Alsace, o ponto mais alto das “Vosges” e descer do outro lado até Belfort mantendo para já o percurso original. Uma vez em Belfort iria de novo tomar a decisão de seguir em frente com o plano ou alterar o percurso. Essa é de facto a grande vantagem de viajar de bicicleta e em autonomia. Os planos são apenas ideias que se vão adaptando à medida do progresso. Já tinha a viagem de regresso de Turim para Bruxelas que estava previamente comprada mas até essa podia ser alterada ou mesmo cancelada.
Por outro lado tinha perdido total confiança no trilho marcado no gps. Percebi que tinha feito mal o trabalho de casa e que a rota definida no gps me enviava com frequência para percursos em terra batida ou que não existiam mesmo. Isso estava a deixar-me desconfortável. Na Suíça não podia fazer uso do telemóvel para re-configurar o percurso pois não temos roaming e os dados na Suíça têm um preço proibitivo. Teria que atravessar a Suíça durante 4 dias completamente offline.
Como dizem que a noite é boa conselheira decidi dormir e deixar que a poeira neuronal assentasse... amanhã logo se veria.
Today's ride: 60 km (37 miles)
Total: 240 km (149 miles)
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